30/03/09


Maldito vento gelado, ali nos lados de Belém.
Valeu de nada a ida e de pouco menos a volta.
Prémio EDP NOVOS ARTISTAS. Bate-se nesta exposição records de incongruência levada por sua vez ao estado da parvónia. Perdoe-me a autora das "telas" que ali se apresentam, telas ditas pintadas a tinta e outros materiais. Senhor, senhor, s. Judas Tadeu, advogado das causas impossíveis, a culpa não é da menina, nem das peças, mas de quem as seleccionou.
Fazem-se cartazes e espalham-se por todos o país, fazem-se out-doors de anúncio, reveste-se o edifício da EDP com a informação de uma exposição bacoca que só serviu para  matar, à força toda, alguns dos seleccionados. 
Não acreditam? bilhete gratuito, passem por lá e façam-se deparar com a verdadeira amplitude provocada pela qualidade e o medíocre, passando pela réplica, é valente e estupefactante.
Fosse eu gente com poder monetário a adquirir alguma das peças, ou mesmo membro do júri, a escolha como peça vencedora cairia na "fita organicamente ondulada, um género de corrimão deliciosamente torneado, mais que escultura um desenho tridimensional que percorre um espaço imenso de uma das salas, em papel e ferro. Sim, meus senhores, essa para mim subiria ao pódio do lugar primeiro, mas dada a insólita selecção que ali se apresenta não ficarei de todo surpreendido como o que quer que aconteça. 
Agora um recado, pequeno, pequenino, aos senhores responsáveis pelo prémio em causa: cuidado com o que seccionam, um dia a surpresa bater-vos-á à porta e a própria EDP ficará sem luz por tempo indeterminado.



26/03/09

Treze horas. Uma correria esbaforida. Os dois pés dentro do comboio.
"O comboio com destino a Santa Apolónia que se encontra estacionado na linha azul, irá dar inicio à sua marcha."
Lugar 12, corredor, posei as malas, posei os ombros no encosto do banco e os olhos na paisagem.
Lugar 11, janela, jornal aberto, desportivamente hardcore e uns braço peludos que se apoderavam do meu pousa-cotovelos.
Desviei os olhos da paisagem que não era grande coisa e, gamei umas letras gordas ao jornal do lado, "belenenses na mira de accionistas", sem importância.
Lugar 15 e 16, "sabes que a Rute da isaurinha foi operada às varizes? - claro, bem precisava, da maneira que trazia as pernas quase pareciam troncos de pinheiros aos grumos.
Lugar 12, ganhei o pousa-cotovelos e o espaço para poder escrever o quanto gosto de ti.

24/03/09

Adormeci, e, por já ser tarde encontrei-me com Salomé.
"ando deprimida, deixei de fumar", nem da carta falou; se a chegou a enviar ou se ainda a têm aberta para tornar a ler. Não quis saber. Acendi um cigarro, precisava de encontrar a melhor forma de justificar a minha falta, nem a ouvia, tinha muito que fazer como encontrar alguém que me certificasse com rubrica sub-carimbada em declaração escrita, onde dissesse: "Declaro que a falta relativa à manhã de hoje, do senhor em causa, se deve ao facto do mesmo ter estado presente na elaboração e planificação do projecto "Corpo Adormecido", o qual, à luz de investigação científica servirá para apresentação pública em palestra subordinada ao tema " Gente faltosa, Gente manhosa". Sendo isto verdade e na qualidade de seu orientador apresento desde já os melhores cumprimentos. (x)"  
Sem pingo de mentira, serviria.
Salomé inalava o fumo do meu cigarro como quem engole o cheiro de terra acabadinha de molhar. Calou-se. Procurava o consolo pelo fumo e esfregava o peito que soltava prensados ais.
Na esplanada do pequeno almoço éramos pela brisa fresca da manhã dois pequenos deprimidos, ela pela prolongada ausência de nicotina, eu por ter dormido em tempos de expediente.

22/03/09



Ai sim? Ai sim Arnaldo sempre vieste?
Por onde tens andando que ninguém te vê? Estás gordo e com boa pele, olha-me esse relógio que fenómeno e o carro é mesmo assim ou kitaste-o?
Foda-se, que bomba do caralho, puta que pariu a máquina em que te tornaste, já pareces um político ou um chulo da república, sei lá...

20/03/09

O Vinagre desceu os três degraus do alpendre. Era hora.
- Olá estás bom?, preciso de falar contigo. Vais ser tio, engravidei a tua irmã. Disse-lhe eu de rajada antes que me respondesse ao facto de estar bom ou não.
Azedou, o vinagre ficou com a expressão muda que só os figos secos têm. 
O Vinagre é forte e robusto e diz-se por aí, como se disse sempre, que quando abraça o que quer que seja enrola, esmaga e mata as presas mesmo que não tenha intenção. Senti medo, ir-me-ia asfixiar num abraço até á minha lufada final. Deixaria um filho no mundo sem pai. Um pai que tivera sido morto pelas tenazes do seu próprio tio. Vi a laje do jazigo " por um abraço, o seu fim".
De repente aquilo que eu temia. O abraço. Abraçou-me. Um abraço longo e apertado. 
Mesmo correndo o risco de perder a vida não fugi, não arredei pé do quarto degrau do alpendre. Seria ali que findaria a minha paixão, a incongruência do perigo, seria ali que eu mesmo findaria. 
Por causa do vinagre conheci a sua irmã, por causa do Vinagre... engravidei-a a pensar no Vinagre.
Respirava, ainda sob a alçada de uns grande braços respirava. Estava ali de pé, vivo, frente ao sorriso dele e a uma ladainha sobre as responsabilidades de se ser pai e sobretudo, evidente, de se ser pai de um sobrinho dele. 
Deu-me um beijo e outro e mais outro, prometeu copos, garrafas e garrafeiras inteiras de loucura. Fazer-se-ia uma festa. Hoje uma festa.
Mais logo o vinagre e eu sairemos, vamos comemorar. O Vinagre brindará ao sobrinho e pedirá um futuro de sorte e saúde à criança. Eu, brindarei também para que não pareça mal, mas em segredo, erguerei os copos bem altos como a promessa de ter mais filhos, de ter mais beijos e abraços do Vinagre.

19/03/09

ao meu pai, a mim.

Hoje, o calendário acordou-me. (pi pi pi pi). Sim o meu calendário apita.
Há um recado que se desperta anualmente, "é dia do Pai", diz a voz mecanizada de um robô que nem sabe o que um pai é, um dia em que os verdadeiros e falsos católicos se juntam e jantam e brincam e oferecem presentes coloridos e dão beijos babados aos pais. Os pais riem-se porque se devem rir, e agradecem pela obrigação de agradecer lembrada pelos seus calendários de serem ou terem sido filhos agradecidos. 
Não suporto calendários estipulados e agendas inflexíveis. No entanto e porque sei que gostas, peguei no espelho, ou melhor, peguei em mim e no espelho, peguei no testamento, abri-o, abri os olhos, abri as lembranças de herdar de ti o sangue, o formato do rosto e dos lábios e como dizes o feitio de um louco irrequieto. Abracei o espelho, abracei-me a mim enquanto sabia que me espreitavas e rias à espera do meu rouco "Bom-Dia".

17/03/09



Estou sem sono e não durmo como muita gente que tem insónias. Eu não quero dormir como as pessoas que tem insónias e se não quero dormir desse modo consigo não dormir de modo algum. É que em dias como este acabo por não dormir e até mesmo ficar sem sono.


16/03/09



Franz von Stuck, Salomé, 1903, Lenbachaus, Munique


Salomé está apaixonada por um homem casado e não é casada com este homem casado. 
Dorme pouco e não toma café, atira-se nas viagens e nos delírios de se imaginar abraçada entre lençóis a falar sobre a sua paixão pelo homem casado com o homem casado.
No pequeno almoço de hoje, num dos meus pequenos almoços de segunda feira, Salomé apareceu e contou a medo que já tivera feio chamadas anónimas ao homem casado. Queria-lhe ouvir a voz, queria saber o ritmo da sua respiração para a poder sincronizar com a sua. Escreveu, hoje ainda muito cedo, uma carta anónima para lha enviar que releu e afinou até à hora do pequeno almoço, não fechou o envelope, queria ainda poder ler e reler mais umas vezes o que hoje se tivera tornado declaração feita. "não quero que leia esta carta e que dela tire ideias erradas, preservo o sentido da família, mas também preservo a minha sanidade emocional. Estou apaixonada". Afirmava a sua realidade tal como as gotas que lhe escorriam dos olhos o faziam.
Mesmo sem saber quem ela é, Salomé, tem medo que ele largue a família, portanto considera assim a hipótese do homem casado se apaixonar por desvaneios anónimos e por uma mulher que é o próprio desvaneio em carta escrita.
Vive apaixonada de manhã à noite, já não come às refeições, perdeu o relógio da razão. "vivo com esperanças que me ligue e que descubra que estou apaixonada sem eu lho dizer, será possível?" com receio, perguntava-me. Pondero que sim, pondero que as paixões são mais visíveis que as montanhas, mas fico em silêncio, não lho digo. Seria apenas um ouvinte que não tece opiniões tal como foi o papel branco que recebeu a sua história de amor anónima.
Quando se cruza com o homem casado, Salomé transpira, fica gaga e fala mais alto, fica com gases e dilata-se-lhe a barriga.
("está?... quem fala?....") - "atende-me quando lhe ligo anonimamente, sabes? é uma voz tão bonita, tão bonita, mais bonita ainda que ele, imagina...". E imaginei à luz do que aprendera em tempos na catequese, a voz de  Deus, um trovão.
Acabou o tempo do pequeno almoço e Salomé nem tocou no pedaço de pão que tinha à frente. Está apaixonada e ridícula como os apaixonados.
"hoje passarei pela sua porta por obrigação, levarei uma roupa larga para que não se note a minha barriga que dilatará, levarei um chiclete na boca para que não me seque a garganta e não gagueje caso me cumprimente..." dizia-me quase sem mexer os lábios em quando punha as moedas sobre a mesa para pagar aquilo que não comeu.
Salomé saiu e leva consigo no bolso a carta anónima dentro de um envelope ainda por fechar. Prometeu que ainda a iria ler mais uma vez, não vá aquela carta chegar às mãos dos filhos do homem ou à sua mulher, mãe dos seus filhos, que a roubaria, por certo para uso próprio, um dos mais belos manifestos de amor a um homem casado que poderia deixar de ser seu.

12/03/09



por aqui não há dia em que não se espete um prego.
ó vizinho tenha lá consideração, por este andar, dadas as ondas sísmicas que provoca com o batente, ainda lhe ganho o vício e fico com parkinson.

11/03/09


preciso urgentemente de um presente.
de um presente, tido na "morte do momento ". a fotografia.
logo que puderes presenteia-me, preciso de um dos melhores nomes da fotografia portuguesa.
antónio julio duarte, desta vez.

aguardo, com as transpirações da ansiedade, por este trabalho.


09/03/09

isto mais parece um blog político...
não quero, não permito.
champagne, champagne for everyone

Já chega, não faz sentido.
Já não se suporta mais que se fale exaustivamente, na Europa, dos dias internacionais da mulher.
A mulher já tem aquilo que outrora contestava não ter, e o que lhe faltar será pouco. A todos nós homens nos falta também. Portanto, ponto final.
O pior é que, sempre que se fala do dia internacional da mulher, rebentam notícias foleiras. Põem-se crianças, jovens, adultos a descrever o que é a Mulher e o pindérico começa a florir. Já lá vai o tempo em que realmente as reenvidicações e os festejos sobre esta temática tinham razão de ser. Hoje é fazer-se o tempo de antena gasto.
Já chega de festas sobre este assunto, até porque, sem qualquer intuito de ofensa, as mulheres são quem lançam os foguetes e quem corre para apanhar as canas.
Se tudo isto for para dar exemplo, para ser testemunho dos bons resultados das reenvidicações que há uns anos fizeram em Londres e se espalharam pela Europa e que agora são os meios de educar, informar, esclarecer e abrir as mentes ridículas de "políticas anti-mulher" ainda em vigor por muitos países, muito bem. Mas façam esses programas, teses, livros, e anúncios chegarem a eles e , por aqui, não nos massem mais. Nós por cá já estamos muito esclarecidos e ao que me parece começamos a ficar fartos.
Não será pouco inteligente falar-se hoje de grupos feministas? assim como de qualquer grupo dito minoritário?
Mas afinal o que é uma minoria? Não serão todos os pronomes pessoais uma minoria?
Caros meninos e meninas somos todos menores e se pudéssemos ter todos um dia internacional, nacional ou mesmo regional que fosse estandarte das nossas próprias políticas, tínhamos no calendário e em agenda até o dia internacional da enxaqueca.
Sim, eu respeito a mulher, respeito os gatos e os pombos, respeito o sapateiro e o dirigente de qualquer sindicato, mas que cada um se meta na sua vida e faça dela um bom, excelente exemplo a quem dele precise. Não serão necessário procissões nem cartazes, os Interessados, comungarão dos vossos princípios à mesma.

08/03/09

As assembleias da república estão a ficar desesperadas.
Quem sabe o segundo semestre consegue dissolver este desespero, o que não me parece. As assembleias hoje só servem para receber manifestações nos seus átrios, fazerem acreditar o povo que lá dentro não existe ninguém e que todos os dias são fins de semana.
A Dona Helena, empregada na assembleia da república portuguesa, com um cargo de responsabilidade médio, diz não conhecer o desempenho no trabalho dos políticos.
Que caralho. Ora se, uma funcionária presente diariamente aos srs presidentes, diplomatas e sem diploma faz vénias e sorrisos custosos não consegue ter acesso a qualquer desempenho trabalhistico da política portuguesa, como poderá avaliar estes senhores e senhoras se só abrem a boca quando se encontram nas orgias parlamentares camufladas de metáforas e intrigas pessoais até aos seus dentes.
Segundo a Dona Helena "só oiço gemidos". Pobre mulher. Avaliadora por natureza, nem consegue entender uma palavra sequer do que por lá se diz, "todos rugem e chiam". Já não falam.
Receiam serem avaliados no seu desempenho por uma ou outra qualquer plebeia sabedora das realidades da vida deste país à beira mar plantado e do bem pago que é ser por não se fazer nenhum enquanto cortam e riscam com um lapinhos azul pequenino. Já ninguém rega o que se plantou. O que se quer e tem é mato e ervas daninhas.
Caros manifestantes dos átrios das assembleias, entrem para lá do átrio, as assembleias são nossas e não das repúblicas, recrutem a Dona Helena e façam dela a vossa bandeira.
Acreditem que não ficará vermelha de vergonha nem verde de raiva. É uma senhora. Como a própria diz, "as senhoras e os senhores de hoje já não são coloridas". Até a bandeira se entristece: as cores desmaiaram, já estão secas por falta de rega.

03/03/09

Fecha a porta Jorge não vá o diabo tece-las.
Já te disse que as correntes de ar e o pó dos pinheiros te fazem mal. 
Limpa lá o nariz que já tens ranho suficiente para alimentar por semanas o primeiro batalhão da polícia militar.
Fecha a porta Jorge, no próximo aviso vais a marchar.

ao lado