27/07/09

As mulheres más estendem-se pelo chão.
Pela raça do corpo dorido e de pele seca que escama e se desintegra,
tornam-se falsas fadas, magos rudes, invisíveis ratoeiras nas nossas grandes florestas.
As mulheres más espalham-se pelo chão e, juntas, procriam ervas daninhas que impedem os caminhos.

19/07/09


Nas mãos viu o vazio

ao ler as linhas do amor e das vidas cada vez mais pequenas.

Pertencia às escolhidas para ser vivente de uma vida sem amor,

ou de amar abrasivamente, pelas esquinas dos dias, sem viver.

Como uma em cada mulher de cada família, de todas as famílias,

é uma mulher sem amor ou dos mortos. Tocou-lhe a si.

Sabia-o pelas mãos pequenas que pegaram do mofo uma fotografia. Olhava a fotografia.

Os tios e as tias numa idade de saltos altos misturavam-se numa mancha única como com as duas árvores e a sé por trás.

Uma imagem borrada de negro, aqui e acolá aclarada pela pouca luz do passado.

Olhava a fotografia e via o relógio da torre sineira, da torre de uma fé que já não reza, que parou, que perdeu os ponteiros.

No centro, bem no meio da imagem a sua pequenez, ela.

Ela menina de vestido longo sem quaisquer folhos de alegria perdida numa névoa negra prestes a cair.

Bastar-lhe-ia um sopro para que se fizesse mais perdida que o tempo.

Uma imagem perdida num dia sem horas, uma imagem moída onde os rostos dos tios e das tias e dos ponteiros fugiram dela,

uma imagem que lhe revelou uma mulher sem amor e sem vida.

No meio, bem no centro, sozinha de rosto nitidamente caído num vestido sem folhos nem flores de menina,

sozinha mesmo no dia em que engoliu pela primeira vez o corpo de cristo.

Sozinha menina olhava a fotografia e perdia-se sufocada no negro dorido da fotografia que lhe ia apagando as mãos.

14/07/09




Ainda me fervilham as axilas pelo sal das marés . 

Sorria do teu bailado circense enquanto berravas o nosso nome,
Gritavas
e desaparecias nos flocos brancos da água partida.
Os faróis egoistas acendiam-se e procuravam o nosso amor. Como te rias disso.

Fizeste com que todos os barcos levassem e trouxessem o nosso nome na proa. 
Lembras-te? 
Nós nos barcos, nós pelas marés rebentadas.
Sonhavamos que éramos mais que nós em cada rasto de espuma, 
que éramos barcos e fragatas inteiras em arraiais e em folia.


Com a certeza  que nos encontraremos em sorrisos no resto que nos resta, 
revelo a todas as praias o nosso poema.
Hoje espero que a maré suba, que me fuce os pés e dê sinal que me esperas.
Catarei todas as vagas, por este mar a dentro, até que a carne arrefeça
e para longe faça bulir o que agora é só memória.
Espero que a maré suba.


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