09/03/12
10/10/11
das contas mais certas.
05/10/11
17/04/11
30/03/11
15/02/11
30/01/11
20/01/11
10/01/11
20/12/10
16/11/10
26/08/10
Farta e de barriga vazia,
há três dias sucumbe, olhos gastos
pela luz e pelo nada que se
lhes entra, as noites foram
parecendo só suas, duras,
longas, noites encardidas. Antes
que se encartilhe deixa para
trás algumas das memórias, as
menos apetecíveis, talvez.
De novo voltará ao seu
si, ao seu pedaço que ainda a
reconhece, enquanto se untará
nas alegrias que lhe restam
destes dias que a encolheram.
Antes de descerem à terra das criaturas feias,
as criaturas bonitas lambem-se até abrirem fendas largas nos braços, nas pernas e nos pés.
Quando largam os sítios altos, os telhados de todas as montanhas,
vestem-se de feridas vaidosas enquanto se transformam em criaturas líquidas e vermelhas.
Dos telhados das montanhas nunca desceram criaturas bonitas e arranjadas.
Pelo caminho, acabam por morrer afogadas no seu sangue e no seu brio.
Domingo há missa. Hoje, sexta-feira, é dia de Emília varrer os pátios da capela, sacudir os miúdos que, nas reentrâncias das pedras das paredes grandes, se encavalitam para fumar às escondidas. Diz-se que Emília acredita que, enquanto o pátio da capela for por ela limpo, terá o céu como destino, assim como outros inflamados regalos oferecidos na casa do padre. Depois de muitas nuvens de pó engolidas, pátios todos varridos e miúdos afastados, Emília enfia-se numa das reentrâncias para fumar quantas beatas possa e quantas tenham deixado acesas.Todos sabiam que a impostora do padre, a varredora dos pátios, fumava as pontas de cigarros por ali deixadas. As maiores, as grandes e interrompidas, levava-as de presente para o padre. Revoltados, os miúdos chamam-lhe: "Emília a chupista de beatas e de padres". Amanhã é sábado, é dia de confesso. Receosa que os lugares no céu fiquem lotados, diz-se, Emilia furará por entre outras mulheres e será a primeira da fila ao confessionário. De joelhos, rezará à sua maneira e à do padre. Diz-se que os sons das palavras, dentro do confessionário, são sôfregos, quase mortos, como se diz que é sempre ilibada de qualquer penitência. Livre de pecados, domingo, pela frescura do toque do sino, de roupa asseada, terço em punho, deslizará bem cedo corredor da capela acima, até à altura da comunhão. Em público, abrirá a boca e mostrará a língua ao padre até que ele rodopie um dos cantos dos lábios como sinal de permissão a uma noite de acasalamento. Deposita-se-lhe a comunhão. Emília é permitida ao céu. Diz-se que, até hoje, Emília já foi abençoada por muitas vassouras, muitas beatas, muitas gerações de miúdos e muitos padres que outrora ali foram miúdos viciados.
19/07/10
21/06/10
15/06/10
Não me importei que cá tivesses deixado a roupa
Não me importo que me tivesse ficado o teu perfume.
Para que dê importância àquilo que não me importa,
fintarei num nó apertado o teu lenço ao pescoço e
enquanto a língua se solta e dela se esvaia o meu sangue,
dançarei nesta noite de misérias bem encostado a ti.
04/06/10
27/05/10
Com saudades dos beijos agudos
dos cotovelos e das frescas nádegas nuas,
a cadeira arrepiava-se fria.
A rainha viajou,
a rainha foi-se embora.
Na cabeceira da cadeira os meus olhos.
Nos seus pés, de ouro velho, a minha bába.
Aqui para nós,
assim como só os ramos perdidos nos rios
viajam sempre mortos.
A rainha perdeu-se por outro reino, por certo.
Sem rainha as entesoadas revoluções já se foram.
Já não se repetem as batalhas de cuspo de ontem,
nem o batido de suores nas bandeiras patrióticas onde nos enrolamos,
não me falará mais das viagens que me fez,
nem do nome dos donos das nódoas das almofadas do coche,
que, por sinal, fincava sempre arreio no monte onde lhe comi os pêssegos.
A rainha arrastou-se pelas suas novas ruas,
foi-se-me embora despida do coche, da bandeira, de mim.
Hoje, tal como todos os reis de voláteis impérios, perdi a coroa.
08/03/10
Não gatinhei nem andei na pré-escola.
Quem cuidava de mim, enquanto os meus pais iam trabalhar, era uma ama. Desde os nove meses que fui entregue a outra mãe e por estranho que pareça não me lembro de ter sentido estranheza em ter duas mães.
Até muito tarde chamei mãe à dona Gloria, mesmo até quando já não era minha mãe.
Porque a dona Gloria tinha quatro filhos, um rapaz e três raparigas e porque os filhos dela, lhe chamavam mãe, eu também, em embalo, lhe decidi chamar.
Desde manhã até à noite esperava pela minha mãe verdadeira e pelo doce, embrulhado à pressa na hora de expediente, que sempre trazia. A minha mãe sempre trabalhou muito, até mesmo nas divagações que fazia quando tinha tudo feito.
Aos cinco anos fui para a escola.
Era o meu primeiro encontro com uma manada de rapazes e raparigas da mesma idade, sentados em cadeiras, em pasto sobre livros e cadernos que se estendiam sobre as mesas numa sala muito diferente da minha.
Quando eu chorava de saudades da minha mãe, ou dos doces ou dos beijos, a mãe Glória, dizia-me: quando fores para escola e vires a entrar na sala uma senhora com uma bata branca, esses choros vão acabar. Ela vai pôr fim a isto. Lá, não há lugar para estes choros de menino.
Aos cinco anos, dona Glória apontou-me uma grande verdade. As professoras, que vestiam batas brancas, assutavam. Sempre julgou que a obrigação para uma professora vestir uma bata branca era de impor respeito e estatuto igual ao de uma rainha de colmeia insubordinada.
No meu primeiro dia de aulas, bem cedo, o meu irmão bateu a porta da nossa casa e, no único degrau do lado de fora, baixou-se e limpou-me um dos sapatos. Ajeitou-me a mala nas costas e agarrou-me a mão. Não me levava à dona Glória, ia-mos em passo acelerado em caminhos diferentes do habitual. Sem troca de palavras, pelas ruelas, a caminho do primeiro dia de escola, só ouvia a respiração e o bater do coração que martelava mais forte do que nos outros dias todos. Recordo-me da minha primeira mala, dos meus livros novos, dos cadernos sem letras e sem vincas nas esquinas e do cheiro que vinha do interior do meu porta-lápis. Desse dia o meu irmão só se lembra dos meus sapatos.
No primeiro dia de escola, a verdade de dona Glória revelou-se. Entrou na sala uma senhora muito alta de cabelo ondulado a raspar numa bata branca. Uma bata branca. Com pressa, como quem tem muita coisa para fazer, saí do lugar que me foi imposto por uma senhora gorda e orientadora. Chamava-se Funcionária, lembro-me dela o ter dito.
Temia aquela sala, aquelas cadeiras e aquela parede negra, os tacos levantados e dos peitorais das janelas enfeitadas com flores mortas.
Chorei. Gritei pelo meu irmão e quem se aproximou de mim foi a senhora de bata branca. Muito antes de ter forças para fugir fui agarrado. Haviam muitos meninos e meninas a olharem para mim, não os conhecia, juro que não os conhecia e, mesmo assim, insistiam em olhar para mim.
Os braços da professora abraçaram-me. Numa das pausas de pedido de silêncio, disse-me ao ouvido, quase em beijo que ali iria aprender a escrever e a ler as minhas próprias histórias. Lembro-me que, no meu primeiro dia de escola, não queria ser abraçado pela mulher que se vestia de branco para manter respeito, não queria nenhuma história minha nem a de ninguém. Queria a minha mãe ou a outra que eu sempre soube que não era minha.
Fui sentado no chão, no fundo da sala, dias e dias com brinquedos e construções das difíceis, enquanto o meu irmão assistia fora da sala, num lugar onde eu o visse. Não tinha doces nem beijos, mas oferecia-me, entre as flores mortas da janela, um sorriso. Sossegava-me como estar sentado no chão.
Os outros meninos aprendiam a ler e a escrever num compasso picado, marcado pela cana na mesa da abelha branca.
Eu, ocupava-me com as montagens e desmontagens e, quando tinha tempo para aquele côro de sé velha, desenhava os números e as letras com as construções sem abrir o bico, não fosse alguém badalar à entidade suprema que eu deveria ir para uma secretária por saber ler e escrever.
Anos depois escrevi esta história pela fórmula aprendida na minha primeira escola. Prometo que em breve a leve num caderno novo, sem os cantos dobrados e a leia em voz alta à senhora da sala, já que à dona Gloria é tarde para contar.
Quanto à minha mãe, a mãe dos beijos e dos doces, essa, sempre soube esta história sem nunca a ter lido.
07/01/10
Porque nos banhos dos corpos nús não se deve olhar abusivamente para os lados, não o fiz, dei-me só ao sentido dos mimos da espuma que me escorria pelo corpo e da água morna que me amolecia pés.
Cometi a inocente loucura de deixar cair uma moeda bem perto de si e da toalha ensopada com a última água que passou por ela.
Baixou-se.
Em silêncio ao passar-me a moeda que tivera rolado até aos seus dedos, vimo-nos.
Tirou a toalha, unto-se com creme "peles mistas", vestiu-se e saiu apressada. Fiz o mesmo, mas com uma calma que não era minha. Como não uso cremes não gastei o mesmo tempo que aquela mulher, fazia-me em espera. Sem pressas vesti-me, não me podia adiantar.
Saiu. Sai, segui-a a uma distância segura. Queria saber mais sobre aquela razão aturdida que eu sentia e sobre si, onde aprendeu a colocar a voz, o que significaria o anel no dedo e se o corrupio que trazia no cabelo era deliberadamente técnico ou natural. Segui-a, cometi a loucura de fazer uma viagem curta sem atingir o destino final, fiquei-me pelo meio caminho, não descobri onde vive e onde se deita com receio que isso me diluísse a fantasia.
As casas falam muito, contam quase tudo, são caixas fortes e secretas mas, abertas à realidade sobre os moradores. Receei que olhasse para trás, que me visse, que me mandasse entrar, que ao me apontar a melhor cadeira, sorrisse e me mandasse sentar, que prepararia algo para me servir enquanto teria eu o tempo para decifrar o número de camadas de tinta que as paredes tinham, o tempo para ler nas estantes os títulos dos livros que leu, separadamente organizados, dos que ainda estariam por ler, analisar o plano de tarefas semanais pregado na porta do frigorífico e recordar para sempre onde, por hábito, espalhava os chinelos-de-quarto.
Medo foi o que senti quando decidi abandonar persegui-la. Medo de a conhecer melhor e de lhe descobrir as mais estúpidas razões que lhe pudessem ser atribuídas como defeitos. Cometi a loucura de fazer uma viagem pequena, a loucura de me ficar pelo meio caminho e de me ter por desistido, de ter sido brutalmente fraco e satisfeito pela candura de um imaginário.
Tal como tê-la, egoistamente à minha maneira, cometo sempre a mesma loucura de querer só isto, de me ficar só pelo incompleto.
21/12/09
Vitor é um boneco .
Um boneco de plástico, Vitor é amarelo, vestido com roupa apertada e de cabelo bem penteado.
Dentro de uma caixa aberta no topo, para que se lhe possa mexer, Vitor espera saudosamente por uma carícia.
Se por entre a abertura superior da caixa lhe tocarmos na cabeça, em vez de ronronar como os gatos de pelo, em vez de chorar e pedir "dá a pápa, dá a pápa", em vez de fazer bolinhas de sabão como as estúpidas bonecas de borracha, Vitor, de plástico rijo, fica excitado a limites das suas calças rasgarem e a caixa deformar.
Vitor é um boneco triste.
Ninguém até hoje o levou para casa, é um boneco muito caro.
Nas lojas onde se vendem o Vitor, todos os empregados e visitantes curiosos lhe passam a mão na cabeça. Riem-se em gritos ao verem as dimensões do tesão do boneco. Vitor vai tomando forma, a caixa embacia.
No exterior da caixa do Vitor está escrito a vermelho pecado "O feitor das quentes e húmidas felicidades", no entanto, o rijo boneco nunca cumpriu a sua missão. Vive fechado em paredes de cartão cheio de febre. Nunca se veio ao mundo.
Hoje pelas notícias soubemos que Vitor está prestes a sair da lojas e quiosques. Acaba de chegar às praças comerciais o fresco Jonh, sem caixa, um boneco de vinil macio e de cabelo rapado que quando se lhe toca na cabeça, mexe as mãos com excitação, ao mesmo tempo que se saliva como bonecas estúpidas, ronrona, como os assanhados gatos e diz em sussurro, como um telefonista erótico, "dá ao bébe, dá ao bébe".
19/12/09
A avó traz sempre consigo, dentro do bolso do avental, um lenço branco amarrotado.
Embrulhado no lenço, um corno pequenino.
Dentro, do corno oco pequenino,
uns gramas de coca
"é para as horas de aflição meu rico filho".
Na beira da porta o sol da tarde pedia sono.
Deixei que a avó adormecesse.
Meti-lhe a mão no avental
apalpei o lenço, agarrei-o sem lhe tocar nas pernas
deslizei a mão, bolso a cima, com o lenço,
afastei-me da porta.
abri o lenço e o corno,
cheirei a coca,
não guardei o corno,
não amarrotei o lenço nem o tornei a colocar no bolso do avental.
Sem controlo no corno, nem no lenço, nem em mim, caí no chão de olhos arregaçados.
A avó acordou,
levantou-se,
viu-me o nariz empoeirado,
não me falou.
Tornou os seus olhos em olhos de cadela aflita,
baixou-se,
mostrou-me a língua e lambeu-me o nariz.
23/11/09
É mágico o poder do falo: transforma as ideias e os corpos; um santo graal que tudo justifica como Verdade e, ainda uma imagem metafísica mais que incógnita.
Alguns procuram-no incessantemente como a um troféu, ao passo que outros, ao encontrá-lo, rasgam-se e enforçam-se com medos e preconceitos.
O falo ainda é algo mágico, algo que, como naturalmente natural, sempre que é mostrado provoca tensões. Um super herói ainda duro como um menir que se tenta ao céu e lá por vezes chega.
A aguentar as intempéries de qualquer estado do tempo, o falo ainda existe.
20/11/09
06/10/09
Senhora, é quase inverno;
são horas de se por a pé,
de tirar dos pés as meias borbotadas e
num banho
enxotar água abaixo as ideias piolhentas.
Depois, aqueça as coxas uma contra a outra,
raspe as costas com uma manta bem rija e
limpe as remelas que a cegam.
Permita-me senhora:
antes que a época das chuvas chegue e a mele em lama,
passeie pelas ruas secas enquanto é tempo.
É quase inverno senhora; por si temo.
:
28/09/09
27/07/09
19/07/09
Nas mãos viu o vazio
ao ler as linhas do amor e das vidas cada vez mais pequenas.
Pertencia às escolhidas para ser vivente de uma vida sem amor,
ou de amar abrasivamente, pelas esquinas dos dias, sem viver.
Como uma em cada mulher de cada família, de todas as famílias,
é uma mulher sem amor ou dos mortos. Tocou-lhe a si.
Sabia-o pelas mãos pequenas que pegaram do mofo uma fotografia. Olhava a fotografia.
Os tios e as tias numa idade de saltos altos misturavam-se numa mancha única como com as duas árvores e a sé por trás.
Uma imagem borrada de negro, aqui e acolá aclarada pela pouca luz do passado.
Olhava a fotografia e via o relógio da torre sineira, da torre de uma fé que já não reza, que parou, que perdeu os ponteiros.
No centro, bem no meio da imagem a sua pequenez, ela.
Ela menina de vestido longo sem quaisquer folhos de alegria perdida numa névoa negra prestes a cair.
Bastar-lhe-ia um sopro para que se fizesse mais perdida que o tempo.
Uma imagem perdida num dia sem horas, uma imagem moída onde os rostos dos tios e das tias e dos ponteiros fugiram dela,
uma imagem que lhe revelou uma mulher sem amor e sem vida.
No meio, bem no centro, sozinha de rosto nitidamente caído num vestido sem folhos nem flores de menina,
sozinha mesmo no dia em que engoliu pela primeira vez o corpo de cristo.
Sozinha menina olhava a fotografia e perdia-se sufocada no negro dorido da fotografia que lhe ia apagando as mãos.
14/07/09
24/06/09
Esfregavam-se há horas.
Entre as virilhas, nos cabelos, entre os dedos e nas gangas das pernas rebentavam de loucura.
Ambos em cada abraço apertado, à luz de um candeeiro manhoso, cuspiam um fogo mais luminoso que o fogo preso dos arraiais.
Sem que por qualquer momento lhe tirasse a mão das costas, que o empurrava para cima, tapou com o cabelo os olhos para que ele não a visse a prestar serviço comunitário.
Ludibriante, igual às mulheres dos calendários, ela fazia fintas de paixão. Fintava a presa como as rateiras viúvas negras.
Dançava ali achatada sob o peso horizontal do homem, trincava-lhe os ombros e o queixo, beijava-lhe a ponta do nariz e os lábios, dizia-lhe palavras obscenas como nos diários de Bianca enquanto o controlava nas estocadas e no ritmo. Por baixo de si o colchão sujo e encovado de muitos meses. A tirana sorria de olhos fechados àquele cobertor peludo de 83 quilos enquanto amassava violentamente o colchão. Com os joelhos, uma perna e mais outra, fazia as calças dele deslizar do corpo.
A respiração acelerava, os moncos do nariz dele pendiam gordos a prometer uma queda a qualquer momento sobre a maquilhagem Cibelle dela. Já e prazo de se babar, o cavalo abriu os olhos, afastou-lhe o cabelo do rosto com uma arfada, viu-lhe os olhos e arrepiou-se em contracções. Colou-se com toda a força no corpo dela, esperneou em chicote e disse-lhe que a amava.
Sou do tempo em que os olhos eram das lágrimas enquanto comíamos do mesmo prato. Sabe lá o menino o que isso é. Já ouviu falar de amor e incerteza?
16/06/09
10/06/09
Desbravaram o terreno, escavaram o monte.
No lugar dos pinheiros os camiões e o pó eram sempre presentes pelos dias e pelas noites.
Cada dia, naquele monte a casa crescia desvairada. Decomposta naquele lugar uma casa grande de paredes altas, a casa dos pinheiros desaparecidos.
Um valado florido, uma oliveira, uma escadaria brilhante, uma casa.
Os camiões iam embora, o pó assentava e os peregrinos dos sofás, das cadeiras e camas, das loiças e talheres, das roupas e das grandes pinturas entravam na casa feita, faziam-na maior, destemida. Nasciam portões, isolava-se. A relva em rolo desenrolava-se, a oliveira deu meia dúzia de azeitonas. Uma casa grande. Na casa dos pinheiros desaparecidos vivia gente que não imaginava que ano depois de anos corridos a tinta descascava, a oliveira iria secar e novos peregrinos apareceriam para recolher sofás gastos, velhas roupas encardidas, loiça em cacos, fogões e frigoríficos enferrujados, enquanto que, pelas telhas o soalho ia sendo regado. A cozinha seria negra, o corredor largo tornar-se-ia estreito e manchado por décadas de apalpadelas de gordura trazidas pelas mãos dos velhos guiar-nos-á à sala, a uma sala sem tecto, de soalho podre e fértil pela decomposição dos habitantes lá mortos. Ali na sala nascerá um pequeno pinheiro e deste outros grandes pinheiros mais largos, de novo um monte, um monte.
27/04/09
mostrar-se enfeitada de eufóricos contos e histórias.
Rendeu-se à verdade das interrogações dos poemas mais tristes e exigentes do tempo, das reticências triplamente batidas, das pausas mudas, dos brancos bélicos do silêncio.
Deixou-se cair em sombra nos braços do adeus, enviou um beijo aos muitos que do terreiro a viam,
deslizou. Serpenteou pelo parapeito a dentro e para lá da janela desapareceu, calou-se.
Nos espaços lisos dos livros plantar-se-á clara