24/06/09
Esfregavam-se há horas.
Entre as virilhas, nos cabelos, entre os dedos e nas gangas das pernas rebentavam de loucura.
Ambos em cada abraço apertado, à luz de um candeeiro manhoso, cuspiam um fogo mais luminoso que o fogo preso dos arraiais.
Sem que por qualquer momento lhe tirasse a mão das costas, que o empurrava para cima, tapou com o cabelo os olhos para que ele não a visse a prestar serviço comunitário.
Ludibriante, igual às mulheres dos calendários, ela fazia fintas de paixão. Fintava a presa como as rateiras viúvas negras.
Dançava ali achatada sob o peso horizontal do homem, trincava-lhe os ombros e o queixo, beijava-lhe a ponta do nariz e os lábios, dizia-lhe palavras obscenas como nos diários de Bianca enquanto o controlava nas estocadas e no ritmo. Por baixo de si o colchão sujo e encovado de muitos meses. A tirana sorria de olhos fechados àquele cobertor peludo de 83 quilos enquanto amassava violentamente o colchão. Com os joelhos, uma perna e mais outra, fazia as calças dele deslizar do corpo.
A respiração acelerava, os moncos do nariz dele pendiam gordos a prometer uma queda a qualquer momento sobre a maquilhagem Cibelle dela. Já e prazo de se babar, o cavalo abriu os olhos, afastou-lhe o cabelo do rosto com uma arfada, viu-lhe os olhos e arrepiou-se em contracções. Colou-se com toda a força no corpo dela, esperneou em chicote e disse-lhe que a amava.
Sou do tempo em que os olhos eram das lágrimas enquanto comíamos do mesmo prato. Sabe lá o menino o que isso é. Já ouviu falar de amor e incerteza?
16/06/09
10/06/09
Desbravaram o terreno, escavaram o monte.
No lugar dos pinheiros os camiões e o pó eram sempre presentes pelos dias e pelas noites.
Cada dia, naquele monte a casa crescia desvairada. Decomposta naquele lugar uma casa grande de paredes altas, a casa dos pinheiros desaparecidos.
Um valado florido, uma oliveira, uma escadaria brilhante, uma casa.
Os camiões iam embora, o pó assentava e os peregrinos dos sofás, das cadeiras e camas, das loiças e talheres, das roupas e das grandes pinturas entravam na casa feita, faziam-na maior, destemida. Nasciam portões, isolava-se. A relva em rolo desenrolava-se, a oliveira deu meia dúzia de azeitonas. Uma casa grande. Na casa dos pinheiros desaparecidos vivia gente que não imaginava que ano depois de anos corridos a tinta descascava, a oliveira iria secar e novos peregrinos apareceriam para recolher sofás gastos, velhas roupas encardidas, loiça em cacos, fogões e frigoríficos enferrujados, enquanto que, pelas telhas o soalho ia sendo regado. A cozinha seria negra, o corredor largo tornar-se-ia estreito e manchado por décadas de apalpadelas de gordura trazidas pelas mãos dos velhos guiar-nos-á à sala, a uma sala sem tecto, de soalho podre e fértil pela decomposição dos habitantes lá mortos. Ali na sala nascerá um pequeno pinheiro e deste outros grandes pinheiros mais largos, de novo um monte, um monte.