21/06/10



Desbravaram o terreno, escavaram o monte.
No lugar dos pinheiros, os camiões e o pó eram sempre presentes pelas noites e dias já tardios.
A cada hora, naquele monte, a casa crescia arregalada até se espigar sonora pelas fachadas e altas paredes. 
Um valado florido, uma oliveira, uma escadaria polida. Uma casa.
Os camiões iam embora, o pó assentava e os peregrinos dos sofás, das cadeiras e das camas, das loiças e talheres, das roupas e das grandes pinturas entravam na casa feita e faziam-na maior, destemia-se. 
Nasciam portões, isolava-se. 
A relva aparada, cobrira as flores despenteadas do acaso. 
A irreverente oliveira deu meia dúzia de azeitonas. 
Na casa dos pinheiros desaparecidos vivia gente. Gente sem suposta ideia que em anos corridos, a tinta descascaria, a oliveira declinaria em curva à morte e novos peregrinos apareceriam para recolher sofás gastos, velhas roupas desfiadas e encardidas, loiça em cacos, fogões e frigoríficos enferrujados, enquanto que, pelas telhas, o soalho ia sendo regado. 
A cozinha seria negra, fumada. 
O corredor largo tornar-se-ia estreito e de paredes manchadas por décadas de apalpadelas, por incontáveis dias de gordura trazidas nas mãos dos velhos. 
Um corredor, um afunilado caminho que nos guiaria até à sala, e ali, uma sala. Uma arena, sem tecto, de soalho podre, fértil pela decomposição dos habitantes lá defuntos.  
Naquela casa vivera gente sem ideia suposta que em anos corridos, no lugar da sala, nasceria um pequeno pinheiro e, deste, outros grandes pinheiros mais largos que em verde orgasmo se expandiriam, por todas as divisões, até ao poço.  

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