30/01/11

A irmã que nunca tive é escura,
não tem braços nem pernas,
não tem peito nem colares,
não tem brincos, nem pérolas,
nem orelhas como as mulheres que vivem dentro de carros bonitos.
A irmã que nunca tive mora dentro de uma caixa com pouca luz. Tem o pescoço e a cara preta 
e olhos, nem eu sei se os tem.
Quando quer companhia,
pela boca saem-lhe nuvens negras que embacia e
lhe engrossa os fios do cabelo.

Quando chego perto, a minha irmã nunca me reconhece. Agasalha-se no preto da sua capa
e continua parada como o alcatrão das estradas.

Nunca nos rimos, nunca passeamos juntos em nenhum dos caminhos,
nem mesmo um abraço demos nas mais dolorosas despedidas.

Hoje, comprei uma caixa maior,
pintei-me de preto.
Dormiremos e sonharemos juntos, por certo,
enquanto esperamos que me caiam os membros, se feche a minha boca e em negro me cerrem os olhos. 

20/01/11

Nem sempre as janelas batem com o vento.

10/01/11

Nem sempre o estômago devolve a comida à boca em acto de contrição.
Nem sempre as vacas das histórias são vacas ruminantes.

08/01/11


A cabeceira, que nunca dorme, conhece todos os meus sonhos. Hoje, durmo no chão.


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