A avó traz sempre consigo, dentro do bolso do avental, um lenço branco amarrotado.
Embrulhado no lenço, um corno pequenino.
Dentro, do corno oco pequenino,
uns gramas de coca
"é para as horas de aflição meu rico filho".
Na beira da porta o sol da tarde pedia sono.
Deixei que a avó adormecesse.
Meti-lhe a mão no avental
apalpei o lenço, agarrei-o sem lhe tocar nas pernas
deslizei a mão, bolso a cima, com o lenço,
afastei-me da porta.
abri o lenço e o corno,
cheirei a coca,
não guardei o corno,
não amarrotei o lenço nem o tornei a colocar no bolso do avental.
Sem controlo no corno, nem no lenço, nem em mim, caí no chão de olhos arregaçados.
A avó acordou,
levantou-se,
viu-me o nariz empoeirado,
não me falou.
Tornou os seus olhos em olhos de cadela aflita,
baixou-se,
mostrou-me a língua e lambeu-me o nariz.
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