Vitor é um boneco .
Um boneco de plástico, Vitor é amarelo, vestido com roupa apertada e de cabelo bem penteado.
Dentro de uma caixa aberta no topo, para que se lhe possa mexer, Vitor espera saudosamente por uma carícia.
Se por entre a abertura superior da caixa lhe tocarmos na cabeça, em vez de ronronar como os gatos de pelo, em vez de chorar e pedir "dá a pápa, dá a pápa", em vez de fazer bolinhas de sabão como as estúpidas bonecas de borracha, Vitor, de plástico rijo, fica excitado a limites das suas calças rasgarem e a caixa deformar.
Vitor é um boneco triste.
Ninguém até hoje o levou para casa, é um boneco muito caro.
Nas lojas onde se vendem o Vitor, todos os empregados e visitantes curiosos lhe passam a mão na cabeça. Riem-se em gritos ao verem as dimensões do tesão do boneco. Vitor vai tomando forma, a caixa embacia.
No exterior da caixa do Vitor está escrito a vermelho pecado "O feitor das quentes e húmidas felicidades", no entanto, o rijo boneco nunca cumpriu a sua missão. Vive fechado em paredes de cartão cheio de febre. Nunca se veio ao mundo.
Hoje pelas notícias soubemos que Vitor está prestes a sair da lojas e quiosques. Acaba de chegar às praças comerciais o fresco Jonh, sem caixa, um boneco de vinil macio e de cabelo rapado que quando se lhe toca na cabeça, mexe as mãos com excitação, ao mesmo tempo que se saliva como bonecas estúpidas, ronrona, como os assanhados gatos e diz em sussurro, como um telefonista erótico, "dá ao bébe, dá ao bébe".
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