30/01/11

A irmã que nunca tive é escura,
não tem braços nem pernas,
não tem peito nem colares,
não tem brincos, nem pérolas,
nem orelhas como as mulheres que vivem dentro de carros bonitos.
A irmã que nunca tive mora dentro de uma caixa com pouca luz. Tem o pescoço e a cara preta 
e olhos, nem eu sei se os tem.
Quando quer companhia,
pela boca saem-lhe nuvens negras que embacia e
lhe engrossa os fios do cabelo.

Quando chego perto, a minha irmã nunca me reconhece. Agasalha-se no preto da sua capa
e continua parada como o alcatrão das estradas.

Nunca nos rimos, nunca passeamos juntos em nenhum dos caminhos,
nem mesmo um abraço demos nas mais dolorosas despedidas.

Hoje, comprei uma caixa maior,
pintei-me de preto.
Dormiremos e sonharemos juntos, por certo,
enquanto esperamos que me caiam os membros, se feche a minha boca e em negro me cerrem os olhos. 

3 comentários:

mo.rafaella@gmail.com disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mo.rafaella@gmail.com disse...

Bom, nao sou grande conhecedora de poesia, gostei muito desta, mas tiraria os dois ultimos versos, ficam muito explicativos, tiram parte do encanto da sua irmã... deixa ela misteriosa...

Bom trabalho :)

Anónimo disse...

Muito bonito o poema! :)
gostei muito...
estou a seguir o blog ;)
M(S)

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